Medo, mídia e uso do discurso de (in)segurança como fator legitimador da política
DOI:
https://doi.org/10.36776/ribsp.v8i20.255Palavras-chave:
mídia, medo, discurso político, segurança pública, militarizaçãoResumo
O artigo analisa como o medo, amplificado pelos meios de comunicação, tem se consolidado como instrumento de legitimação de políticas públicas autoritárias no Brasil contemporâneo. Investiga-se, em especial, o papel da mídia na construção da insegurança coletiva e sua influência na formulação de políticas penais e de segurança, evidenciando uma crescente militarização da sociedade e a erosão das garantias democráticas. O objetivo do estudo é compreender as conexões entre mídia, discurso do medo e decisões políticas voltadas à segurança pública, com ênfase na atuação do poder legislativo e na ascensão de agentes ligados às forças repressivas ao cenário político. Adota-se a metodologia de revisão bibliográfica crítica, com base em autores nacionais e internacionais que discutem criminologia midiática, sociedade de risco e cultura do controle. Os resultados demonstram que o discurso de (in)segurança favorece políticas penais populistas, encobre os reais fatores estruturais da criminalidade e legitima a expansão do poder punitivo do Estado. Conclui-se que o medo, enquanto produto midiático e político, serve de base para medidas repressivas e simbólicas que não enfrentam as causas da violência, mas geram capital eleitoral e mantêm o status quo. O estudo recomenda maior responsabilização dos meios de comunicação e a retomada de uma abordagem racional e garantista da segurança pública.
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